Ato no Aeroporto de Porto Alegre contra reforma da Previdência, CUT-RS avisa: “se votar a favor, não volta”
Trabalhadores e trabalhadoras amanheceram nesta terça-feira (6) no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, para protestar contra a reforma da Previdência do golpista Michel Temer (MDB) e mandaram um duro recado aos deputados federais: “se votar a favor, não volta”. A manifestação organizada pela CUT-RS e CTB-RS teve início na madrugada, às 4h30, com uma concentração em frente ao Monumento do Laçador, o mais famoso cartão postal da capital gaúcha.
De lá, às 5h, os manifestantes saíram em caminhada até o maior terminal do Aeroporto, onde percorreram o saguão de embarque com faixas, cartazes e bandeiras, entoando palavras de ordem como “Chega de enganação, reforma não”, “Se botar pra votar, o Brasil vai parar” e “Fora Temer”.
O protesto chamou a atenção de funcionários de empresas aéreas, passageiros, deputados e assessores que embarcavam para Brasília. O objetivo foi expressar a posição contrária da classe trabalhadora contra a reforma da Previdência.
Ao chegarem no portão de embarque, as centrais realizaram um ato com manifestações de diversas lideranças sindicais.
“Se votar a favor, não volta”
“Quero dizer que todos os que estão aqui hoje dialogando com a sociedade, nos aeroportos brasileiros, é para dizer que cada cidadão cobre do seu deputado e o pressione para votar contra essa proposta da Previdência, que é a tentativa deste governo golpista do Temer de retirada de mais direitos dos trabalhadores brasileiros e aumento do tempo de serviço”, denunciou o vice-presidente da CUT-RS, Marizar de Melo.
“Este ato é uma forma de dizer a todos os deputados e aos senadores gaúchos que, se votarem a favor da reforma da Previdência, em outubro eles não voltarão, porque não defenderam o interesse do povo brasileiro, dos gaúchos e das gaúchas”, alertou Marizar.
O secretário de Relações de Trabalho da CUT-RS, Antônio Güntzel, frisou que “a nossa manifestação é contrária à reforma da Previdência porque ela não traz qualquer benefício para a população e nem para o país”. Segundo ele, o governo mente quando diz que tem que fazer a reforma para o Brasil andar para frente e para acabar com privilégios.
“Em nenhum momento, a reforma atinge os privilegiados. Não atinge, por exemplo, o Judiciário, que tem um monte de penduricalhos, como o auxílio-moradia, e não acaba com os privilégios do Executivo, nem do Legislativo”, criticou, destacando ainda que o povo não pode pagar uma conta que não é dele.
Antônio lembrou, também, da situação dos sonegadores e reiterou que, se o governo afirma que precisa da reforma, que inicie buscando os devedores e os que estão sangrando os cofres públicos, através de isenções e renúncias fiscais.
O dirigente da CUT-RS destacou que o ato era apenas um “esquenta” para a jornada nacional de luta contra a reforma da Previdência, que prevê um dia nacional de luta no próximo dia 19. “Teremos muitas outras atividades e, se o governo insistir em pôr a proposta em votação, vamos parar o Brasil”, concluiu.
Só prejuízos aos trabalhadores
O presidente da CTB-RS, Guionar Vidor, destacou que o governo coloca a reforma da Previdência num cenário de desemprego, que já vem penalizando os brasileiros, e que com essa proposta eles terão que atingir 40 anos de contribuição e 65 anos de idade para se aposentar. “Temos muitos estados no Brasil, onde a população sequer chega aos 65 anos de idade, portanto essa reforma é para o trabalhador não se aposentar. É uma reforma que só traz prejuízos aos brasileiros”, pontuou. Ele também convocou todos a se manifestarem junto aos deputados pedindo para que votem contra a reforma da Previdência.
“Não podemos baixar a guarda”
Ao passar pelo embarque, o deputado Pepe Vargas (PT) se somou à manifestação das centrais e aproveitou para dar o seu recado. “Não podemos baixar a guarda”, disse. Segundo o parlamentar, a posição do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dizendo que não vai colocar a proposta em votação se não tiver os votos necessários e que hoje não tem votos para aprovar o que chamou de “contrarreforma”, pode ser uma armadilha para desmobilizar os trabalhadores e os movimentos sociais.
Pepe frisou que o objetivo do governo com a reforma é enquadrar as despesas com a Previdência no congelamento de gastos das políticas sociais determinada pela Emenda Constitucional 95, que diz que os gastos com saúde, educação e previdência têm que ficar congelados nos próximos 20 anos, enquanto que os gastos com rentistas não têm limitação. Além disso, ele elencou como segundo objetivo fazer com que as pessoas com melhor poder aquisitivo possam migrar para os fundos de previdência privada dos bancos.
O parlamentar destacou a importância da unidade das centrais sindicais. “Estaremos lá no processo de resistência, mas é muito importante o movimento de vocês aqui”, destacou.
Ao embarcar, o deputado Henrique Fontana (PT) também conversou rapidamente, para não perdeu o voo, com alguns dirigentes da CUT-RS e fez sinal de apoio ao protesto. “Podem contar com o meu voto contrário”, afirmou para os sindicalistas.
Respeito à Constituição e ao povo
Já a vereadora Sofia Cavedon (PT) lembrou que, se o povo brasileiro na sua maioria está rejeitando essas reformas do golpista Temer, é inaceitável que os parlamentares votem no sentido contrário da vontade popular e que aceitar que, se usurpe a decisão do povo, é renunciar a própria cidadania.
“Estamos cobrando que os deputados respeitem a Constituição Federal e o poder exercido em nome do povo. Perguntem ao povo brasileiro se ele quer abrir mão do seu direito de se aposentar com dignidade e se quer abrir mão dos direitos trabalhistas?”, questionou.
Conforme Sofia, a lógica do sistema capitalista de transformar tudo em mercadoria é grave no Brasil e em muitos países. Para a vereadora, a “bola da vez” no Brasil é transformar em mercadoria a poupança dos trabalhadores. Para os capitalistas, segundo ela, “não basta explorar a força de trabalho, oprimir, tem que também capturar sua pequena previdência para repassá-la à previdência privada. Isso é o que está fazendo este grupo que se apossou do Brasil e depôs uma presidenta legítima”.
“O povo tem que acordar porque se é possível um regime de exceção, onde se condena sem culpa e sem provas, é possível se apropriar da vida dos brasileiros porque é disso que se trata essa reforma. Temos que exigir que os deputados e senadores escutem e respeitem o povo brasileiro”, ressaltou a vereadora.
Pressão nas bases eleitorais dos deputados
O presidente da Federação Democrática dos Sapateiros do RS, João Batista Xavier, destacou a importância de que se faça pressão nas cidades, junto às bases dos deputados. Segundo ele, cada dirigente deve levar para as suas categorias o trabalho que vem sendo feito pelas centrais, mostrando a unidade na luta contra os golpistas e exigir respeito com a classe trabalhadora do país.
Batista criticou o discurso do governo, que tenta colocar os trabalhadores do setor público e privado uns contra os outros. “Somos todos trabalhadores”, frisou, reiterando que quem tem privilégios não são os trabalhadores, são os próprios políticos, “mas isto eles não falam”.
Resistência tem feito a diferença
Para o secretário de Comunicação da CUT-RS, Ademir Wiederkehr, o ato é importante para que os trabalhadores mandem o seu recado aos deputados. “Nossa resistência tem feito a diferença. Eles queriam votar no ano passado, mas realizamos em abril a maior greve geral da história e eles não puderam votar. Agora querem votar novamente e não podemos baixar a guarda. Temos que fazer com que essa reforma seja jogada no lixo.”
“Vamos continuar nossas mobilizações e, no dia 19, vamos fazer um grande dia nacional de luta contra a reforma da Previdência para sacudir a população e mostrar que será com luta que vamos enfrentar os golpistas e derrotá-los nas urnas este ano. Nossa luta é longa e não podemos perder nenhum momento porque é ela que faz a diferença”, salientou.
Ademir também lembrou o papel da mídia golpista, cuja postura tem sido vergonhosa. “O papel que vem desempenhando a mídia brasileira é uma vergonha. Enquanto a mídia internacional vem mostrando o golpe, aqui os meios de comunicação pegam carona no golpe para se beneficiar e defendem os interesses do governo Temer. Por isso, é importante fortalecer a mídia alternativa, os blogs, sites dos sindicatos, das centrais, e informar corretamente os trabalhadores”.
O ato durou cerca de duas horas. Além de dirigentes sindicais e representantes de diversas categorias de trabalhadores do campo e da cidade, estiveram presentes ainda representações dos movimentos sociais, dos estudantes, pessoal da cultura e o vereador Tiago Souza da Silva (PCdoB) de Campo Bom, dentre outras lideranças.
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